sábado, 1 de dezembro de 2012

1.º de Dezembro de 1640: Restauração da Independência do Reino de Portugal &c.

De prata, com cinco escudetes de azul, postos em cruz, cada um carregado por cinco besantes de prata, postos em aspa; bordadura de vermelho carregada de sete castelos de ouro, fechados. Timbre: uma serpe alada, nascente, de ouro, lampassada de vermelho.

sábado, 24 de novembro de 2012

A Taça de Chá

O luar desmaiava mais ainda uma máscara caída nas esteiras bordadas. E os bambus ao vento e os crisântemos nos jardins e as garças no tanque, gemiam com ele a adivinharem-lhe o fim. Em roda tombavam-se adormecidos os ídolos coloridos e os dragões alados. E a gueisha, porcelana transparente como a casca de um ovo da Ibis, enrodilhou-se num labirinto que nem os dragões dos deuses em dias de lágrimas. E os seus olhos rasgados, pérolas de Nankim a desmaiar-se em agua, confundiam-se cintilantes no luzidio das porcelanas.
Ele, num gesto ultimo, fechou-lhe os lábios com as pontas dos dedos, e disse a finar-se: — Chorar não é remédio; só te peço que não me atraiçoes enquanto o meu corpo for quente. Deitou a cabeça nas esteiras e ficou. E Ela, num grito de garça, ergueu alto os braços a pedir o Céu para Ele, e a saltitar foi pelos jardins a sacudir as mãos, que todos os que passavam olharam para Ela.
Pela manhã vinham os vizinhos em bicos dos pés espreitar por entre os bambús, e todos viram acocorada a gueisha abanando o morto com um leque de marfim.
A estampa do pires é igual.

Almada Negreiros, in Frisos – Revista Orpheu nº1

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Dia da Implantação da República Portuguesa...

Pavilhão Naval (1830)
Viva El-Rei Dom Miguel I de Portugal e dos Algarves &c.

domingo, 9 de setembro de 2012

Prece (Mensagem XII)

Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silencio hostil,
O mar universal e a saüdade.

Mas a chamma, que a vida em nós creou,
Se ainda ha vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a occultou:
A mão do vento pode erguel-a ainda.

Dá o sopro, a aragem – ou desgraça ou ancia –,
Com que a chamma do esforço se remoça,
E outra vez conquistemos a Distancia –
Do mar ou outra, mas que seja nossa!


Fernando António Nogueira Pessoa
escrito a 1 de Janeiro de 1922
publicado in Mensagem (1934)
versão da 3.ª edição (1945)

domingo, 22 de julho de 2012

José Hermano Saraiva (1919-2012)

quinta-feira, 8 de março de 2012

Puck

If we shadows have offended,
Think but this, and all is mended,
That you have but slumber'd here
While these visions did appear.
And this weak and idle theme,
No more yielding but a dream,
Gentles, do not reprehend:
if you pardon, we will mend:
And, as I am an honest Puck,
If we have unearned luck
Now to 'scape the serpent's tongue,
We will make amends ere long;
Else the Puck a liar call;
So, good night unto you all.
Give me your hands, if we be friends,
And Robin shall restore amends.

William Shakespeare
after "A Midsommer night's dreame"
Act V, Scene 1 (1600)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Pois bem!

Se um Inglês ao passar me olhar com desdém,
num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
Se tens agora o mar e a tua esquadra ingente,
fui eu que te ensinei a nadar, simplesmente.
Se nas Índias flutua essa bandeira inglesa,
fui eu que tas cedi num dote de princesa.
E para te ensinar a ser correcto já,
coloquei-te na mão a xícara de chá...

E se for um Francês que me olhar com desdém,
num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
Recorda-te que eu tenho esta vaidade imensa
de ter sido cigarra antes da Provença.
Rabelais, o teu génio, aluno eu o ensinei.
Antes de Montgolfier, um século!, voei.
E do teu Imperador as águias vitoriosas,
fui eu que as depenei primeiro, e às gloriosas
o Encoberto as levou, enxotando-as no ar,
por essa Espanha acima, até casa a coxear.

E se um Yankee for que me olhar com desdém,
num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
Quando um dia arribei à orla da floresta,
Wilson estava nu e de penas na testa;
olhava para mim o vermelho doutor
— eu era então o João Fernandes Lavrador...
E o rumo que seguiste a caminho da guerra,
fui eu que to marquei, descobrindo a tua terra.

Se for um Alemão que me olhar com desdém,
num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
Eras ainda a horda e eu orgulho divino,
tinha em veias azuis gentil sangue latino.
Siguefredo esse herói afinal é um tenor;
Siguefredo hei mil, mas de real valor.
Os meus deuses do mar, que Valhala de Glória!
Os Nibelungos meus estão vivos na História.

Se for um Japonês que me olhar com desdém,
num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
Vê no museu Guimet um painel que lá brilha!
Sou eu que num baixel levo a Europa à tua ilha!
Fui eu que te ensinei a dar tiros, ó raça
belicosa do mundo e do futuro ameaça.
Fernão Mendes, Zeimoto e outros da minha guarda
foram-te pôr ao ombro a primeira espingarda.

Enfim, sob o desdém dos olhares, olho os céus;
vejo no firmamento as estrelas de Deus,
e penso que não são oceanos, continentes,
as pérolas em monte e os diamantes ardentes,
que em meu orgulho calmo e enorme estão fulgindo:
— são estrelas no céu que o meu olhar, subindo,
extasiado fixou pela primeira vez...
Estrelas coroai meu sonho Português!

P.S. A um Espanhol, claro está, nunca direi: — Pois bem!
Não concebo sequer que me olhe com desdém.

Afonso Lopes Vieira
(1878-1946)